Estava folhenhando a prova de português para o cargo de professor classe "sl" realizado no dia 20 de dezembro de 2009 quando me deparei com uma linda poesia do nosso poeta piauiense Mário Faustino, poesia que faz parte do livro O homem e sua hora. Era uma das questões do concurso promovida pela SEDUC e gostaria de compartilha com você caro leitor.
Sinto que o mês presente me assassina
Sinto que o mês presente me assassina,
As aves atuais nasceram mudas
E o tempo na verdade tem domínio
sobre homens nus ao sul das luas curvas,
Sinto que o mês presente me assassina,
Corro despido atrás de um cristo preso,
Cavalheiro gentil que me abomina
E atrai-me ao despudor da luz esquerda
Ao beco de agonia onde me espreita
A morte espacial que me ilumina.
Sinto que o mês presente me assassina
E o temporal ladrão rouba-me as fêmeas
De apóstolos marujos que me arrastam
Ao longo da corrente onde blasfemas
Gaivotas provam peixes de milagre.
Sinto que o mês presente me assassina,
Há luto nas rosáceas desta aurora,
Há sinos de ironia em cada hora
(Na libra escorpiões pesam-me a sina)
Há panos de imprimir a dura face
À força de suor, de sangue e chaga.
Sinto que o mês presente me assassina,
Os derradeiros astros nascem tortos
E o tempo na verdade tem domínio
Sobre o morto que enterra os próprios mortos
O tempo na verdade tem domínio,
Amém, amém vos digo, tem domínio
E ri do que desfere verbos, dardos
De falso eterno que retornam para
Assassinar-nos num mês assassino.
(Faustino, Mário. O homem e sua hora e outros poemas. Pesquisa e organização Maria Eugenia Boaventura.
São Paulo: Companhia das Letras, 2002.)
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
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