terça-feira, 7 de agosto de 2012

A dor de ser traída


Em plena tarde de desembarque da Judoca Sarah Menezes em solo teresinense, depois da conquista do ouro em Londres, encontro uma amiga e queixosa balzaquiana em uma livraria, estava na lida acompanhando a judoca passar.

A moça tinha o coração ferido por conta do namorado, ou melhor, agora com o que ele aprontara: ex-namorado. “O infeliz teve a coragem de sair com outra, e o q
ue é pior, com uma mala da mesma firma que eu trabalho”, dizia lamuriosa, triste mesmo, até parecia uma canção do Nelson Ned.

Enquanto a judoca medalhista de ouro sorria e acenava no carro do corpo de bombeiros, minha colega vendedora sofria com um ippon no tatame da amargura. Sua auto-estima rastejava o passeio da Frei Serafim. Estava ali na lida como uma Virginia Woolf introspectiva, onde nem o brilho da medalha de ouro da Sarah ofuscava sua tristeza.

A dor da traição era tão grande, que a “sua presença dissipou o fantasma metafísico da razão”, como bem vociferou Balzac no livro A Mulher de Trinta Anos. Realmente encontrar a razão, anti uma chifrada, é como procurar agulha no palheiro. É acompanhar o desfile da campeã olímpica em Teresina apenas com os olhos, porque com o coração mesmo, este estava pra lá de Londres.

Foi à tarde de segunda-feira mais cinzenta para minha colega, enganada, chateada por ter sido tratada como filial, fumava um king size da angústia, irritada observava as nuvens de fumaça saindo da própria boca indo direto para a procissão que exaltava a judoca piauiense.

Dizia que merecia mais consideração, mesmo que não fossem mais dormir juntos, mesmo que agora tivesse mil motivos para apagar o nome dele da fronha sentimental, merecia um mínimo de respeito.

Depois que a banda passou com a Sarah Menezes sendo ovacionada, deixei minha colega na porta da loja sombria e macambúzia, mesmo assim desejei sorte na próxima relação.

Depois olhei pra trás e disse: mas da próxima vez vê se não se envolve tanto,não se doe tanto, ai citei o velho Zygmunt Bauman com o seu Amor Líquido, “os relacionamentos são como vitamina C: em altas doses, provocam náuseas e podem prejudicar a saúde”.

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