Por Toni Rodrigues*
Dave Klen é um policial corrupto na Los Angeles dos anos 50, como
aliás o são todos os policiais que constam do universo literário de
James Ellroy. No livro "Jazz Branco" ele comanda uma investigação
sobre assalto na residência de um figurão do crime. Sem saber, também
está sendo investigado.
O FBI acompanha seus passos e de outros tiras que recebem gorjetas
do crime organizado. A narrativa segue ritmo de cinema - enunciados
curtos, diretos, impactantes. Poucas palavras que dizem muito e criam
imagens mentais. Igual a estar diante da grande tela.
Recentemente, Mandrake saiu das páginas de Rubem Fonseca para
um seriado da HBO no Brasil, um dos mais conhecidos personagens
do romance policial brasileiro. Dois exemplos de boa literatura. Nos
Estados Unidos, os livros fazem parte do cotidiano das pessoas. No
Brasil, são publicados pelo menos 100 mil títulos por ano. E no Piauí?
Por que nossa literatura apenas engatinha?
Deveríamos, todos, ser consumidores de bons livros, assim como
José Mindlin, que lamentavelmente faleceu no domingo (28). Era um
dos maiores colecionadores do mundo. Em sua biblioteca havia nada
menos que 38 mil volumes.
Leitor Voraz. Assim deveria ser a maioria dos brasileiros e piauienses.
Não somos. Em alguns casos, os livros não estão disponíveis. Em outros,
são os leitores que estão em falta.
Temos uma produção literária das mais interessantes. Mas poucos são
aqueles que conseguem visibilidade.
Reinaldo Coutinho incursiona pelo fantástico das inscrições rupestres das
Sete Cidades de Pedra, da similaridade entre a enigmática figura do
Cabeça-de-Cuia, lenda genuinamente teresinense, e o formato ovóide do
famoso ET ou "Chupa Cabra".
Há muitos escritores. Muitas histórias, alguns livros. Geralmente, produções
independentes que, quando muito, chegam a tiragens de mil exemplares.
Nossos escritores têm máteria-prima para escrever à vontade, assim como
os americanos, os ingleses, os asiáticos. Poderiam ganhar algum dinheiro. Mas
em solo mafrense não existe um mercado editorial. Eles fazem doações dos seus
livros.
Cineas Santos, presidente da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, afirma que
bastaria 7 mil pessoas por ano adquirerem livros de autores piauienses para que
tivéssemos uma demanda aceitável.
Seria menos de 1% da população do município e já se poderia sonhar com algo
parecido com o mercado de literatura. Nas livrarias, coloca-se nas vitrines ou
expositores mais frequentados apenas os livros recomendados em revistas
nacionais ou sítios especializados de internet.
No âmbito do poder público, nem se fala. Os incentivos são mínimos. Os autores
demoraram muito a receber os recursos de patrocínio oficial. Quando recebem!
Quem lê, viaja. Avança. Pensa melhor. Escreve melhor. Tem mais habilidade diante
dos desafios do cotidiano. Consegue destaque em qualquer campo da atividade
humana.
No Piauí, isso deve significar alguma agressão sem tamanho.
(*) Jornalista, radialista e escritor. Redator do blog Banda Larga
(portal 180 graus) e coordenador editorial da Rádio Teresina FM
(91,9 Mhz). Editorialista do Jornal Diário do Povo. Autor de 12
livros, dentre os quais "Conexão Delta do Parnaíba", "Matadores
de Prefeitos" e "Histórias & Crimes".
terça-feira, 9 de março de 2010
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