domingo, 3 de novembro de 2013

Três pingadas de remédio

   
Três pingadas nos ouvidos de um remédio para curar uma otite média e, pronto, lá estava eu submerso em um mundo silencioso. E por alguns minutos, enquanto o liquido do antibiótico descia pela a minha membrana timpânica, nada ouvia, nada escutava, era como se todas as comportas de som existentes tivessem sido, automaticamente, trancafiadas.

Após caírem os pingos do conta-gotas em minhas orelhas infectadas, toda a sonoridade das coisas, das palavras e das vozes das outras pessoas, por alguns instantes, emudeceu. Até mesmo a relação amistosa que eu mantinha com os decibéis, segundos antes do uso da suspensão ontológica, estremeceu.

Eu desconhecia o silêncio total das coisas, pois fui criado com o barulho frenético da existência humana, mas a descoberta daquela mudez arrebatadora, provocada por uma infecção auricular me mostrou o outro lado da vida, o lado em que não se ouve sequer um ruído.

A instilação das gotinhas do anti-inflamatório na região externa de meus ouvidos me transportou da balbúrdia voraz do cotidiano para a taciturnidade dos bosques, a penetração dessas gotinhas orelha adentro, me deu a sensação de está mudando de uma civilização barulhenta para a calmaria jubilante das montanhas, pelos menos momentaneamente.

O pânico da surdez inesperada fora superado pela delicia de nenhum retorno de sons, a invasão das três gotinhas anti-bacteriana em meu canal auditivo substituíram as excessivas britadeiras, por uma bolha de um silêncio apaziguador. A vida cotidiana está tão cheia de buzinas, de apitos, de alarido pra cá de algazarra pra lá que nos assustamos com a simples ideia de quietação, mesmo que seja por trinta segundos.


Não fosse a minha otite média, eu não teria experimentado o silêncio do mundo que muitas vezes não percebemos, não fosse essa infecção dolorida nos ouvidos eu teria perdido a chance de ouvir um som que se assemelha a mansidão de um lago no meio do nada, e estaria apenas acostumado a ouvir os zumbidos dos aparelhos eletrônicos, o ronco dos motores e o burburinho das gentes.                    

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

ENEM

Todos os dias, sempre cedinho, ao chegar à repartição, eu cruzo com um grupo de adolescentes que se concentra a porta do cursinho preparatório, para mais um dia de aula. São jovens de rostos sonolentos, mas ao mesmo tempo altaneiros que vivem discutindo questões de química e física entre si, isso sem falar nas vezes em que os flagro comentando geografia e literatura no elevador. Vinculados a ideia de um lugar ao sol, esses moços e moças de cara espinhentas vivem pensando onde assinalar corretamente o X, seus hormônios vivem fluindo para os exercícios resolvidos, teorias e dicas a fim de ingressarem no ensino superior. Mas ao chegar ao meu local de trabalho esta manhã, simplesmente não vi ninguém, a escadaria do cursinho estava completamente deserta, então me perguntei, onde estão aqueles meninos e meninas que carregam diariamente um livro, digo, um sonho, debaixo do braço? Foi quando me dei conta de que hoje é o dia do ENEM, esse famigerado exame inventado por aqueles que se dizem entendedor de educação. É provável, que a esta a hora, muitos desses alunos sonhadores, estejam descasando, relaxando, se é que isso seja possível, antes de começarem a responder a primeira prova de fogo de suas vidas e que, asfixiados, passaram o ano inteiro pensando nela.

Agora há pouco

Agora há pouco fui comprar minha quentinha em uma dessas churrascarias Residência que estão espalhadas em toda a cidade, e fiquei a observar duas mesas em particular, a primeira, havia uma família inteira, pai, mãe, tia, cachorro, gato e todos conversavam entre si, riam, brindavam, tipo da família italiana em almoço dominical. A outra, com a mesma quantidade de membros, mas o silêncio entre eles era assustador, não se ouvia nada, sequer o tilintar de pratos e copos, todos estavam ocupadíssimos mexendo, absortamente, em seus celulares, ipads, iphones, tablets. Cada pessoa dessa família estava com a atenção voltada para essas maquininhas que além de aproximar, elas também afastam os seres humanos um dos outros, era uma situação que nada lembrava um almoço tradicional de um clã em fins de semana. Longe de mim querer julgar qualquer tipo de comportamento familiar, longe de mim mesmo, mas ao ver a maneira diferente como essas duas famílias se comportavam diante de uma mesa farta, uma que conversava olhando no olho e a outra que conversava olhando para máquinas, lembrei-me de uma frase do Tolstói que aparece no começo de seu romance Anna Karênina: “todas as famílias felizes são iguais, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira”.

Crônica para uma amiga


Era noite de sexta-feira, uma dessas noites alegres e fagueiras, Patrícia e eu, militantes da geração doidivanas, aguardávamos, ansiosamente, o show da cantora baiana Márcia Freire, aliás, naquela época, década de 1990, a música “vermelhou no curral” era cantada com entusiasmo pelo o público de todo o Brasil. 

Mas para a nossa surpresa, o público teresinense não compareceu ao show, não se viu um pé de cristão que pudesse ajudar a moça a cantar o hit do momento, “a cor do meu batuque tem o toque, tem o som da minha voz”, apenas Patrícia e eu, é claro. Apesar da situação inusitada, minha amiga e eu cantamos, alegremente, “meu coração é vermelho hey hey hey” com as mãozinhas elevadas para o alto no imenso vazio do MN Palace. 



Lembro que antes do show terminar, fomos ao bar e restaurante La Bodeguita induzidos pelo o tenro cheiro das esfihas e dos kibes. Já com os comestíveis substanciosos sobre a nossa mesa, falamos sobre as letras do Renato Russo, de seu tumulto interior e empolgados pelos os goles boêmios de cerveja cantamos, “se lembra quando a gente chegou um dia acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre sempre acaba”. 

Em seguida falamos das farrinhas dominicais no quintal da casa do Fernando Arroz, ao mesmo tempo em que riamos das crendices das beatas do EJC (Encontro de Jovens com Cristo). E quando eu lhe perguntava se estava namorando, ela baixava a cabeça e respondia ironicamente, “ai meus sais de banhos”, eu insistia, mas ela, furtivamente, dizia, “prefiro falar das palmeiras imperiais”. 



Nesse ínterim, a estrela da música baiana, aquela que deixamos cantando sozinha, entoava o bis de “vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhão”, e quando lembramos que ninguém, simplesmente ninguém, além de nós, havia ido prestigiar a música que era a sensação do Festival de Parintins e que estava sendo interpretada pela a Rainha do Agito, rolamos de rir. 

A nossa noitada continuou ativa, Patrícia e eu nos divertimos como nunca, duas crianças em festa envolvidas por uma noite mágica. Ofereci-lhe outra bebida, brindávamos o encontro, a vida e evidentemente o mico do show vazio, quando de repente observamos os músicos da cantora Márcia Freire, cabisbaixos, saindo do local do show para depois guardar seus instrumentos em um caminhão baú.

Mantive o tom de reminiscência nesta crônica Patricia Brito para que você nunca esqueça da nossa amizade, parabéns e feliz aniversário.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O amor acaba


O cronista Paulo Mendes Campos dizia que o amor acaba a qualquer hora, em qualquer lugar e por qualquer motivo, o cronista realmente estava certo, pois o amor, essa fera que no inicio parece indomável, acaba até mesmo em uma parada de ônibus, nas proximidades do IBAMA na Avenida Homero Castelo Branco. O amor estava acabando para o casal que discutia a relação já adormecida em um fim de tarde de quarta-feira, ele gesticulava, argumentava e afirmava em bom tom “que não dava mais”, ela, meio chorosa, atestava, categoricamente, que se o amor estava acabando era simplesmente culpa dele. Ambos se agrediam e se acusavam verbalmente, mas a verdade é que aquele amor estava sendo, violentamente, atropelado pelos os veículos que cruzavam a avenida, justamente quando os dois saiam da repartição. O amor estava acabando para aquele homem e aquela mulher, que após o trabalho não entrelaçavam mais as mãos à espera da condução, o amor acabava para ela que pedia para ele desaparecer de sua vida, ele então, com o amor acabado, indagava que pediria demissão o mais rápido possível, por achar que não podiam mais compartilhar a mesma empresa, os mesmos corredores, a mesma sala de reuniões e as mesmas cores do uniforme, com o the end do amor, ele devolveria o crachá que indicava a mesma função que ela. Depois de meia hora de discussão passional, que envolvia ódio e decepção, ela partiu em um circular cujo destino seria curar um amor fracassado, ele saiu caminhando em busca, quem sabe, de um novo começo amoroso. O certo meu caro cronista Paulo Mendes Campos é que a Avenida Homero Castelo foi o cenário de mais uma história de amor terminado, e como você bem disse em uma das melhores crônicas de todos os tempos, o amor acaba a qualquer minuto seja na esquina, nas sorveterias ou na poeira que vertem os crepúsculos.

sábado, 7 de setembro de 2013

Choro

 
A moça, recém-saída do trabalho, ainda vestida em seu elegante tailleur de clinica particular, chega em cima da hora para mais uma aula de inglês instrumental na UFPI, diferente das quartas-feiras anteriores, ela entra sem dá um boa tarde, muito menos sorrir simpática, apenas senta-se no fundo da sala e baixinho, em um gesto quase inaudível, chora. Passa a mão pelos os olhos e como quem esconde um...a conjuntivite, coloca aqueles óculos gigantes escuros para ocultar as lágrimas recalcitrantes. O resto da turma, concentrada nas estratégias de scanning, skimming e prediction, não repara, não faz a leitura do desespero assombroso e mudo da balzaquiana. Teria tido alguma desavença no trabalho? Fora demitida? Ou o fim de um amor? Não se sabe, só se sabe que a mulher que chora em público, mesmo que disfarçadamente, chora uma dor que não pode adiar.

7 de Setembro

D. Pedro I, o nosso primeiro imperador, o nosso reizinho português que, em cima de seu cavalo ou seria égua? Vociferou, bravamente, independência ou morte, bem que poderia ter gritado: ereção até a morte. Digo isso senhores, porque quem leu o livro, Histórias Íntimas – Sexualidade e Erotismo na História do Brasil da historiadora Mary Del Priore, sabe muito bem que o nosso pervertido monarca gostava mesmo era de uma sacanagem, traçava qualquer súdita que cruzasse seu caminho, não é a toa que em cada esquina vossa majestade galanteador mantinha uma “teúda e monteúda”, uma espécie de periguete para sacia-lo a qualquer hora do dia e da noite, é tão tal que a historiadora descreve o apetite sexual do nosso Pedrinho ganharão como “insaciável”. Dona Leopoldina, a oficial do nosso intrépido cavalheiro sexual tinha mais galhas na cabeça do que qualquer árvore do império, o José Bonifácio coitado, tentava, inutilmente, ocultar as orgias do nosso desbravador de hímen. Moço, o herdeiro da coroa, tinha mais amantes do que as torcidas do Benfica e do Porto juntas, o coito era tão essencial para o nosso Don Juan dos trópicos como o próprio ar que respirava. Mas como toda panela encontra sua tampa, foi nas curvas de Domitila, a marquesa taradinha de Santos, que o nosso depravado rei armou o seu trono, amantes tórridos e indômitos, “Titilia” e Pedrinho safadeza trocaram inúmeras cartas eróticas, tais missivas eram assinadas carinhosamente pelo o nosso soberano da cópula e proclamador da Independência do Brasil, como “seu foguinho”, ou então desenhava, no canto do papel, um “pênis ejaculando” e enviava para a sua amada, como nos informa a nossa historiadora Del Priore. O fato meus amigos é que a nossa famigerada independência da coroa portuguesa fora conquistada sob a pujança de uma ereção e os uivos de um orgasmo. Goze bem o nosso 7 de setembro.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Patinadora

Antes de chegar à repartição vi, ao longe, solitariamente, uma moça a circular de patins o entorno do novo Parque Potycabana. Sinceramente, é de causar uma inveja danada, àquela hora da manhã, observar aquele espírito levitando sobre rodas, totalmente desprendido de qualquer arreio. A atitude da moça dos patinetes contrastava com a dos meus colegas de condução, sonolentos, eram apenas trabalhadores que corriam acossados para os seus empregos. O ônibus passou e o vulto que deslizava sobre o solo do parque ficou para trás, fui me empenhar no meu compromisso rotineiro, mas feliz em saborear a liberdade matinal da moça patinadora.

Sábado

O sábado chegou e com ele a certeza de que mais uma semana se finda, e com essa chegada do hoje o ontem, provavelmente, para muita gente, passa a ser ultrapassado, aliás, nós brasileiros temos a péssima mania de achar que aquilo que não é novo, não serve. Veja o caso do Ronaldinho Gaúcho, antes do título da Libertadores quantos não disseram que o jogador estava velho e gordo, o classificaram até d...e ex-atleta, e o resultado qual foi? E o caso do Rogério Ceni? Como o seu time está uma draga danada, muitos rostinhos joviais já disseram que o velho goleiro já está no ponto de se aposentar, mas quem garante que o velho arqueiro artilheiro não possa levantar mais uma taça? Paremos então com essa bobagem de achar que está na meia idade, na velhice, na maturidade é está inválido feito um navio ancorado em um estaleiro qualquer, olhemos para o exemplo do Papa, um senhor idoso, cheio de vigor e esperança, “um fofo” que está em perfeita simetria com a juventude. Eu sei que às vezes “a gente tem a leviandade de achar que os velhos nasceram velhos, que estão ali apenas para assistir ao nosso crescimento”, como bem disse o bom e velho Affonso Romano de Sant’anna, se nós continuarmos pensando assim, desculpas, mas velho ficará o nosso pensamento, portanto, vamos curtir o sábado, sem nenhum tipo de censura ao tempo vivido ou ao tempo da experiência, pois na vida ou se morre prematuramente ou se envelhece. Boa Tarde!

Ela

Ela entra no ônibus, passa pela a roleta como quem valsa, usa uma blusa branca que combina com a sua pele diáfana, veste um jeans da cor do céu, senta-se no mesmo assento que eu, abre a bolsa e pega um hidratante de flores, começa a passar pelos os braços e mãos, o cheiro é tão bom que lembra estrato de framboesa, se bem que nunca cheirei framboesa, desculpas, mas é o diabo da licença poética, dep...ois de passar a loção, ela a devolve a bolsa e pega um livro, é o livro do cantor Lobão, Manifesto do Nada na Terra do Nunca, daria um dedo para saber o que velho roqueiro dizia àquela moça, agora tão concentrada na leitura, mas não deu tempo fazer nenhum tipo de especulação, tive que descer no meu ponto, olhei mais uma vez em sua direção e vi apenas seu risinho acrobático sobre as páginas da obra.

O Paulinho está lendo!

Ontem, o primo do meu filho Pedro, o Paulinho, de cinco anos, foi passar o domingo lá em casa, juntos, fizeram mais algazarra do que a turma da novela Carrossel no último capítulo. O quarto do Pedrinho, normalmente, é o espaço mais inadimplente da casa, pois está em constante débito com o SOA, que quer dizer, Sistema Organizacional do Ambiente. É incrível, mas a bagunça que ele faz sozinho é tanta..., que nem o Bob Esponja, que tem mania de limpeza e é perfeccionista ao extremo, daria jeito, e com a visita do priminho então, o quartinho que já era um vendaval transformou-se no próprio tsunami. Mas receber o Paulinho é sempre uma festa, principalmente agora que ele começou a ler, gente o Paulinho está lendo! Ler tudo que ver pela frente, ai todo mundo começou a pedir, Paulinho o que está escrito aqui? E ali Paulinho, ler aquilo ali para o tio, olha Paulinho como é o nome desse livro? É tão fascinante ver uma criança adentrando o universo da leitura e foi tão encantador ver o Paulinho articular as primeiras frases que aquele gesto me fez lembrar algo que o escritor gaúcho João Gilberto Noll escreveu sobre o conselho que recebeu do pai quando começou a se aventurar nas letras, “quando você aprender a ler vai possuir de alguma forma todas as coisas, inclusive você mesmo”.

domingo, 26 de maio de 2013

E AI COMEU?

Nesse final de semana assisti ao filme E Ai Comeu? O amigo deve está se perguntando, agora? É, somente agora pude assisti essa grande comédia brasileira, digo grande, porque foi um sucesso de publico e de crítica na época do lançamento.

Mas não me incomodo de ter sido um retardatário de E Ai Comeu, não, pelo contrário, às vezes até que é bom fugir do calor da emoção que muitos tiveram para acompanhar a estréia.

O fato é que o filme é muito engraçado, é meio clichê dizer isso para quem já assistiu, mas enfim, a produção estrelada por Marcos Palmeira, Bruno Mazzeo, Emilio Netto e Indira Paes me arrancou boas gargalhadas.

Mas uma cena chamou minha atenção, qual? Qual? O amigo deve está novamente se perguntando, já que a produção tem várias cenas hilárias. Aquela cena amigo em que o Afonsinho (Emilio Netto) um jovem escritor louco por sucesso pede ajudar ao seu tio (José de Abreu) para publicar o seu livro.

O tio ao ler o original diz claramente ao Afonsinho que para falar de amor é necessário que se tenha vivência, e vivência no amor é a única coisa que Afonsinho não tem, já que este é um solteirão convicto e nem namorada possui.

Como assim vivência no amor? É porque para o personagem de José de Abreu, só se sabe falar ou escrever sobre o amor quem já teve ou viveu um. Quer dizer então que quem não viveu um grande amor não tem propriedade para falar dele?

E o que dizer então de Camões que escreveu uns dos sonetos mais lindos que já li, “o amor é fogo que arde sem se ver”, quando em um naufrágio o bardo preferiu salvar Os Lusíadas à esposa?

E como explicar a saga de Don Quixote de Miguel de Cervantes que enfrentou moinhos gigantes por causa de um amor fantasioso de sua Dulcinéia? E Fernando Pessoa que escreveu, “O amor, quando se revela, não se sabe revelar, sabe bem olhar p’ra ela, mas não lhe sabe falar”, pelo o que me consta o bardo português pouco namorou.

Todos esses gênios escreveram intensamente sobre o amor sem necessariamente o terem vivenciado.

Mas quando adiantei um pouco a cena, percebi que o personagem de José de Abreu pedia ao sobrinho escritor que só escrevesse sobre o amor depois que tivesse experimentado algum. 

Faça como o Vinicius de Moraes, disse ele, que teve que casar sete vezes para poder escrever com legitimidade sobre o maior sentimento do mundo.


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Dias de folga


Tirei uns dias de folga lá da repartição, por isso, hoje, resolvi levantar mais tarde, afinal, sempre saio muito cedo para trabalhar, merecia me dá esse luxo. Mas confesso, me senti diferente, um ser estranho estatelado em cima da cama em plena oito horas da manhã. Ouvi até sons que eu não fazia idéia que amanheciam em minha casa, uma vassoura de piaçava trepidando na varanda, o piado de uma janela sasazaki se abrindo, o apito da chaleira fervendo, o tilintar das xícaras sobre a mesa do café, o liquidificador furioso triturando a popa de fruta, e o mais incrível de todos eles, o barulhinho de alguém mastigando um cream crecker. Pelo visto, nesses dias em que ficarei de pijama, terei que me acostumar a essas onomatopéias matinais.