terça-feira, 26 de outubro de 2010

Lula, 82%: por que ficar calado?


Um texto que merece ser transcrito 

Pelo professor Fonseca Neto 
Acabo de repassar o noticiário nacional de 22/10, vendo postagens em saites ligados a jornalões e tevês. As eleições prevalecem.

Um detalhe chama a atenção: notícias contrárias a Dilma vão a mais de 90% do espaço dado ao assunto. E uma delas, diluída, favorável a Dilma: o Datafolha diz em pesquisa que ela está 12 pontos à frente de Serra e o presidente Lula tem aprovação recorde de 82% de ótimo e bom.

Um dado que avulta da eleição deste ano é o engajamento direto da imprensa comercial contra a candidata apoiada por Lula. Mídia controlada por “oligarquia” midio-familiar do sudeste-sul.

Será objeto de muitos estudos no futuro essa inversão de olhares para os acontecimentos deste tempo da vida brasileira: a chamada “grande imprensa” quer uma coisa e o eleitor parece querer outra. Essa mídia vocaliza, à exaustão, o que pensa os 4% que acham Lula ruim ou péssimo. O povo aprovando maciçamente seu presidente como jamais fora visto, e tais noticiosos num esforço concentrado de desconstrução de sua imagem, seu governo e da candidata que apóia.

Os donos de jornais assumiram a tarefa de colocar suas empresas-redações a serviço da candidatura Serra, na declarada posição de substituir aos partidos de oposição na busca de derrotar a candidata Dilma e seu partido. Justifica sua opção dizendo que a continuação do PT no poder seria o fim da “liberdade de imprensa” no Brasil. Trata-se de dose cavalar de empulhação, sabedores eles que a presidência Lula marca na história brasileira um tempo de liberdades amplas como nunca se vira antes: será que haverá presidente cuja família foi tão devassada e desrespeitada pela imprensa em sua humanidade quanto a de Lula?

Lula, 82% de aprovação popular no fim do governo quer dizer muita coisa. E qual é a única interpretação do fato dada pela maioria dos que escrevem nessas folhas e falam nas tevês? A interpretação dos serristas? Dizem dia e noite que a maioria que aprova Lula e seu governo é feita de “pobres ignorantes”, beneficiários de “bolsas-esmola” e/ou “espertos do sindicalismo mamando em cargos públicos”.

Como se vê, fala plena de preconceito, fala do colonizador, cheia de branquidade, liberal em larva, e desabrochada, reveladora de menosprezo aos que sofrem as exclusões, intencionalmente má –o que talvez ajude explicar porque tais meios-mídia assumiram como tarefa de vida ou morte a campanha pró Serra. 
Estamos a uma semana da eleição e esse partido-mídia, serrista, sem máscaras, parte para o ataque final da manipulação. Anseia e quer participar da ocorrência de uma desgraça que desgrace o Brasil, Lula e Dilma, fato que desperte algum tipo de ira popular e descarregue voto em Serra. Será uma semana de redobradas agressões que serão descontextualizadas para enganar o povo.

Essa imprensa liberal obscurantista está indo pro tudo ou nada e está intentando golpear a democracia eleitoral, já deformada sob vários aspectos; de há muito é peça-chave na sustentação das políticas contrarreformadoras no Brasil. Quer agora um filete de sangue na testa do demotucanado, que de há muito tirou a eleição do campo da política e o levou para o das disputas além de simbólicas em torno de questões que despertam o ódio e todo tipo de violência.

Em sua hipocrisia, tenta manchar o valor de Lula, exigindo que fique calado o presidente popular de 82% de aprovação, com a conversa cheia de má fé de que “um presidente da República não deve se meter em eleições, é um magistrado”. Instilando parcialidade, o jornalista F. Rodrigues (FSP), em coro com sua colega E. Cantanhede, chega ao disparate de afirmar que “Lula não surpreendeu por jogar no lixo outra vez o decoro do cargo”, aludindo à fala dele sobre o “ataque” a Serra com bola de papel. Na esperança de aguçar ainda mais os preconceitos viscerais de certa classe média contra o metalúrgico-presidente, diz ela imprensa que Lula seria o culpado pela agressão.

Lula tem que falar; falar e muito. Claro, cuide de não ser arrogante. Aliás, o que nele a direita e o serrismo chamam de arrogância, é a fala indignada ante tanta agressão e desrespeito à sua condição. É digno faça sua própria defesa –e queira Dilma sucessora.

Escrito originalmente no site acessepiaui.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário