sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

COMPROMETIDO COM AS LETRAS

           Últimamente venho lendo bastante o material deste jovem poeta chamado Adriano Lobão Aragão. Senti-me honrado por ele ceder a postagem de algumas poesias suas neste humilde espaço que tenta divulgar a literatura piauiense.




Adriano Lobão Aragão nasceu em Teresina, Piauí, em 1977. Formado em Letras pela UESPI, leciona língua portuguesa e literatura na rede particular de ensino de Teresina. Fundador da revista amálgama, publicação dedicada à literatura. Em 1998, através do Concurso Novos Autores, recebeu o Prêmio Cidade de Teresina pelo livro Uns Poemas, publicado no ano seguinte pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Em 2005 publicou Entrega a Própria Lança na Rude Batalha em que Morra, pela Fundac. Seu livro Yone de Safo foi agraciado em 2006 com prêmio Torquato Neto instituído pela Fundação Cultural do Piauí e publicado pela amálgama no ano seguinte. Em 2009, publicou as cinzas as palavras. Participou das coletâneas Versos Diversos (Passos/MG), Poetas do Brasil 2000 (Porto Alegre/RS) e Estas Flores de Lascivo Arabesco, poemas eróticos piauienses (Teresina/PI). Atualmente, edita o site dEsEnrEdoS (www.desenredos.com.br) e o blog Ágora da Taba (adrianolobao.blogspot.com).


as tardes as manhãs


as tardes quentes e iguais a todas as outras as manhãs
desprovidas de ânsias vãs seguem lentamente aos currais
como se guardassem mais que o passado dos dias de amanhã
e perene a si tece a tarde disposta sobre nós

como noite de homem só como tempo que não se mede
agudo vento que segue sem rumo sem prumo sem voz
iguais a todas as outras se tramam em nós as marcas
em caminho aberto a faca como vento leva suas folhas

iguais a todas as horas na erma eternidade do nada
e perene a si tece a tarde disposta sobre nós
as tardes quentes e iguais a todas as outras as manhãs

(in as cinzas as palavras)



e plantam flores onde fenecem os frutos da terra

e plantam flores onde fenecem os frutos da terra
para mães que não podem resistir às dores do parto
as vítimas de tanta desgraça atiram-se às trevas

pelos mesmos gestos de efusão materna acumulados
sem que nenhum júbilo encontrasse aquele que caminha
onde plantavam no sagrado barro os ossos do pecado

desfeito abrigo e caminho da palavra medida
que as mãos de uma mãe recolhe para o útero vazio
e com a língua recobre e cura a própria ferida

e planta flores onde fenecem os frutos de Eva
e grita as dores do parto de um filho sem umbigo

(in Yone de Safo)


na glória de tua força perdida na ânsia do herói


na glória de tua força perdida na ânsia do herói
derrotado se constrói a divindade que te louva
levado à mesma forca que sendo erguida se destrói

perdida a força do herói o que em nossa lira se canta
guarda no andor de santa caminho em terra de homens sós
onde em ferro se constrói todo canto que ao fogo espanta

há música e há dança onde uma musa leve se mova
meretriz que se louva quando um herói sem esperança
entrega a própria lança na rude batalha em que morra

entre as marcas e a força do profano e do sagrado
destes heróis armados que uma brisa distante encanta

(in Entrega a própria lança na rude batalha em que morra)

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