sábado, 27 de fevereiro de 2010

CRÔNICA NO GOELLA

                                                      PORTUGUÊS FILÉ-MIGNON

         Por José Maria Vasconcelos (crônista)


A profissão de professor de Português, Literatura e Produção de Texto rendeu-me generosas bênçãos financeiras, explorando vantagens de mercado, como salas de cursinhos, cursos dentro das empresas e órgãos públicos, atendimento a grupos fechados de adolescentes e profissionais. Durante as aulas, enfatizo o conhecimento da língua pela profusão de exemplos de escorregadas e acertos, extraídos de jornais e falas. Regras gramaticais aparecem sem ranços nem azedumes vinagreiros, mas com sabor lúdico e prazeroso. Uma espécie de aprender a cozinhar, fritando na cozinha. Adorável experiência. Os exemplos, a seguir, foram encontrados nos jornais e mídia, sem nenhum interesse de tripudiar sobre comunicadores e colunistas, ou demonstrar presunçoso saber mais que outros. Afinal, até filé-mignon às vezes sapeca.

Repórter escreveu: “ No mundo inteiro, o Rotary já doou centenas de milhões de dólares em prol da erradicação da doença e hoje a meta é erradicar a doença em países da Ásia, África e Oriente Médio, onde a doença é uma ameaça.” Como se vê, o texto precisa, também, de uma doação, a fim de evitar uma epidemia do termo DOENÇA.

Repórter, direto da Agespisa: “ A Agespisa tem amparo legal na lei.” Para que tão rotundo amparo legal na lei? Enquanto eu reparava o cano da Agespisa, encontrei minúsculo vazamento em manchete de jornal: “ Casos de saque ilegal do seguro-desemprego têm aumentado no Piauí e a Polícia Federal abriu inquérito policial para investigar a atuação de quadrilhas em Teresina e no interior.” Uma vírgula antes do primeiro E ficaria bem. Motivo: o sujeito da primeira frase é SAQUE ILEGAL. O da frase seguinte é POLÍCIA FEDERAL. A conjunção E recebe vírgula, antes, se duas frases que se coordenam trouxerem sujeitos diferentes. Observe: “ Fui ao teatro, e você não me viu .” Os sujeitos de ambas as frases não são os mesmos, por isso, coloca-se vírgula antes de E. Agora: “ Fui ao teatro e não vi você.” Nesta última oração, a vírgula não aparece, porque os sujeitos são os mesmos, “EU fui” e” EU não vi.”Questão, como esta, já foi explorada em concursos.

“ O parlamentar petista afirmou que as diretrizes aprovadas durante o Congresso animou ainda mais os petistas para que o Antônio José seja candidato do Governo.” Valei-me, Sta Gramática, a animação foi tanta, que o jornalista esqueceu vírgulas, rasgou a concordância do sujeito, DIRETRIZES, com o verbo ANIMOU. Quem desanimou fui eu. Empalideci de vez.



Viu como é prazeroso ir à cozinha, em vez de ficar olhando chato professor espalitando regras gramaticais no quadro?

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