sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Que Saudade dos Militares!




Por José Maria Vasconcelos
cronista- josemaria001@hotmail.com

Nem era ainda meia-noite, início dos anos 70, pequena Teresina de uns 300 mil habitantes recolhia-se muito cedo, inclusive televisão e vida noturna. Podia-se atravessar a cidade a pé, vivinho, sem nenhuma instigação malandra. Viam-se alguns hippies perambulando, barato, “paz e amor”, cigarrilha de maconha, alienação, na deles, pacíficos. Enorme e belo Davi, passos largos, cabelos longos, calça boca-de-sino, idolatrado por jovens ricos. Prazeroso e romântico sair por aí, com a patota de voz e violão, gravações de Roberto Carlos, bancar Romeu em serenata frente à residência da amada, das paixões arrependidas.

Na Avenida Coelho de Resende, nas beiradas da Frei Serafim, pulamos o muro baixo, escondemo-nos entre roseiras, afinamos o tom...”Se você pensa que vai fazer de mim/ o que faz com todo mundo que te ama... É melhor saber...” Nem findou, a polícia, ou tiras, como eram chamados, aproximou-se, deu ordem para debandar.

Mínimas manifestações públicas eram vigiadas e disciplinadas, ai de quem se arvorasse peitar um militar ou policial. Era assim o meu país de liberdade limitada. E, por incrível que pareça, vivíamos felizes e ordeiros. Proibia-se quase tudo que violasse padrões morais, ordem social, pudor, família, autoridade. Um simples rebolado erótico não passava na mídia. Havia exageros de autoridade, não existia decantada democracia e direitos humanos, como hoje, todavia bandido sabia o que o aguardava.

Sabia-se da tirania militar, mas só para subversivos, que lutavam para implantar o poder comunista, tirano e totalitário da Rússia, China e Cuba. Cidadão brasileiro dormia tranquilo, sem bala perdida, sem quartéis do crime nos morros, sem assaltos nem violência, livre ir e vir, sem ladrões dos cofres públicos.

Se pela árvore se conhecem os frutos, militares governaram o país durante 20 anos. Quem saiu milionário? Quem encheu cuecas? Podem até enumerar alguns raros “desvios de conduta”. O estilo franciscano da vida militar sempre foi visível na construção de suas residências, conservação do patrimônio público, a frota de carros antigos. Nem lembram o baronato das lideranças polícas de hoje, montados em carrões e fortalezas da corrupção.

O governo militar conseguiu generosos empréstimos estrangeiros, quando o atraso nacional beirava miséria africana. Asfaltaram praticamente o país. De Teresina a Fortaleza, Porto Alegre a Belém, tantas. Asfalto para resistir décadas, em vez das tapiocas sazonais de hoje. O poder militar construíu gigantescas hidrelétricas, quando pequenas cidades apagavam antes da meia-noite; implantou o sistema das telecomunicações, quando se esperavam horas para atendimento telefônico a distância; implantou, sem muito sucesso, cursos técnicos no Ensino Médio, de coloração europeia; expandiu milhares de conjuntos habitacionais (só em Teresina: Parque Piauí, Dirceu, Promorar, Mocambinho, Bela Vista, Redenção).

De que adianta famigerada democracia, se há liberdade para se roubar, estuprar, incendiar, violar sem rigores da Justiça? Ah, não, quero meu passaporte para velhas serenatas de antanho. Apesar dos fuzis em mãos milicas, bandidos não usavam, eu ainda podia abraçar um hippie ou alienado, levantar polegar e maior-de-todos, exaltar a “paz e amor” da serenata que não se ouve mais.

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