segunda-feira, 21 de março de 2011

Estudar e Pesquiste


Por José Maria Vasconcelos
Nem quero lembrar dolorosos momentos, rabiscando duas, três vezes três folhas de papel, em busca de um texto enxuto, de leitura fácil. Desconhecia a mais maravilhosa invenção humana, o computador, com mundão de informações e serviços. Penava que só burro tangido por carroceiro. Pagava digitadores, que me aporrinhavam com deslizes gramaticais e alterações de sentido, além das espinhosas idas ao dicionário e velhos livros, em busca de dados. Enviava cartas, em vez de emails. Sobrevivia às expensas da esferográfica, datilografia, vovó IBM, fantasmas de antanho. Nutria-me de saudosismo tecnológico, à guisa dos que tentam seduzir jovens para retorno às bucólicas praças do passado, em vez de desfrutar com eles praças do shopping. Tinha de me conectar à babel eletrônica, apesar da linguagem confusa e malandra de oportunistas internautas.

Minha neta de 7 anos navegava na internet, e eu morria de vergonha, marmanjão analfa. Humilhei-me, ela me ensinou os primeiros toques e truques. Escamas da cegueira iam-se-me desfazendo, à proporção que o mundo se me descortinava. Hoje, vou direto ao teclado, digito o título, mando brasa à inteligência. Preciso de uma informação, paro, entro no Google, consigo resposta, retorno ao texto. Que barato! Sai uma crônica craque.

Professores lamentam a irresponsabilidade e preguiça dos alunos que plagiam e não estudam mais. Tudo copiam ou pagam por uma montagem monográfica. Irresponsáveis e acomodados são os mestres, por não cobrarem apresentação pública das pesquisas, acompanhadas de depoimentos orais, desligados do texto, permitindo apenas uma sinopse na mão. Meus ex-alunos testemunham como lhes cobrava tarefas de casa: selecionava alguns para expor, em público, explicar tintim por tintim conteúdos estudaddos e pesquisados. Inicialmente, eu elaborava uma síntese na lousa, oferecia dicas e estimulantes recursos e só. O desenvolvimento do tema ficava por conta dos estudantes. Suavam, reclamavam à coordenação, exigiam-me que expusesse tudo na lousa, exibisse meu talento, para eles escaparem das buscas aos livros. Torrava-lhes o juízo, exigia-lhes pesquisa e apresentação oral, em público. Tarefa ingrata ao magistério, só reconhecida mais tarde, sob loiros do sucesso profissional: Firmino Filho, Fernando Said, Lucídio Filho, Iracema Portela, Djalma Filho, Gustavo Medeiros, Pedro Alcântara, tantos e tantos que experimentaram vertigens deste algoz. Fazia-os visitar empresas e redutos, a fim de colher uma redação. Hoje, eu os afligiria a substituir divagações tolas da internet por sites e portais de arquivos científicos, se quisessem realizar sonhos mais altos, embalados pelo entusiasmo deste irreverente mestre. Não se avança com cotas, plágios vidinha prazerosa, curtindo besteirol cozido com novelas, forró sacana, noturnas farras. Constroem-se mentes cultas e prósperas com sacrifício, vigílias e pesquisas. Não condenemos a internet, a biblioteca virtual quase de graça. É só desfrutá-la, como eu, apesar de tardio. Olha que crônica me rendeu! Sem aporrinhação de digitadores e surrados livros na estante.

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