sábado, 8 de outubro de 2011

As geringonças do tempo de menino

                                                                 Imagem: google
Por Chagas Botelho

Olá minhas doces criaturas, estamos na iminência do dia das crianças e, por conta disso, resolvi soltar o menino levado que ainda há em mim. Aquele intrépido frangote, que apesar dos seus brinquedos rústicos de madeira e lata de sardinha, esbanjava felicidade por onde passava.

As minhas travessuras diárias começavam logo com os primeiros raios de sol. O aquecimento se dava sob o aroma do café no coador de pano, feito com maestria pela minha mãe. Com o liquido negro esquentando a garganta, eu arquitetava friamente o dia de traquinagem.

Depois, ganhava as ruas da mesopotâmia do norte e corria atrás das mais diversas estripulias. Jogar bola, empinar papagaio, enfiar bola de gude no buraco do terreiro, banhar no rio, pular da ponte e a mais divertida de todas: ajudar a seu Zé a carregar e a descarregar a sua carroça.

- Seu Zé hoje posso usar o chicote? Perguntava todo embevecido.

- Menino já disse! Açoitar o dorso dessa égua só com muita malicia. Respondia cheio de si.

O passeio naquele veiculo de jacarandá pelas ruas da cidade era minha supremacia infantil. Ser ajudante daquele carroceiro corpulento era conquistar a medalha de ouro dos heróicos catadores de lixo, era acima de tudo me tornar o rei do pedaço para ciumeira geral dos meus colegas.

Então, chegou a fase do jogo de botão, cada partida disputada era como batalha de gladiadores no Coliseu de Roma, tinha sabor ferrenho. Mas a alegria imperava mesmo, era na fabricação dos atletas com o óleo fumegante de plástico derretido, riamos alucinadamente dos dedos queimados.

Era muita liberdade para o menino traquino do interior, ora caçador de bem-te-vis ora pescador de mandis. E quando o parque de diversões chegou, mais parecia um disco-voador de tão inacreditável. De repente aquela babilônia de ferro se transformava em oitava maravilha do mundo.

Nada escapava ao meu olhar de menino curioso. Até mesmo as placas que exibiam nomes de governadores e desembargadores, espalhadas pelas ruas de cima e de baixo, viraram minha brinquedoteca particular. Pois, através delas esbocei alegre e atropeladamente as primeiras leituras.

Mas o palco principal das insólitas brincadeiras foi na escola, o meu carrossel encantador. Brincar de pega-ladrão, salve-bandeira com um pedaço de cipó, caí no poço, bom barquinho e tantas outras, deixaram minha imaginação sempre ir mais longe.

Tudo é questão de despertar a sua alma, assim dizia o velho Garcia Márquez. A minha com certeza fora acordada inúmeras vezes.

Daqui a pouco será 12 de Outubro, o dia das crianças atuais. Os anjinhos dos jogos eletrônicos e tecnologia avançada. Espero que no futuro, elas também se lembrem com todo encantamento desses brinquedinhos coloridos e sedutores de hoje, tal como me lembro das geringonças do meu tempo de menino.

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