domingo, 6 de novembro de 2011

Amigos serão amigos

Por Chagas Botelho

Como de fato começa uma grande amizade? E como ela se prolonga por tanto tempo sem sofrer a fúria da dissipação? Qual o segredo de tanto entrosamento, tipo Pelé e Garrincha, que tiveram um perfeito casamento futebolístico? Pois é, tais indagações me fizeram estremecer ao receber o abraço da despedida.

A cada palavra pronunciada, fui compreendendo o valor real da amizade entre mim e o meu parceiro Mauro. É como se aquela velha canção, você meu amigo de fé e irmão camarada, tivesse sempre presente em nossa longa estrada, é como se esse belo refrão tivesse sido testemunha ocular da nossa constante cumplicidade. Aliás, até o nosso gosto musical ao longo do tempo foi análogo, como uma consagrada dupla caipira.

E agora, o meu velho brother vai para a Europa, e eu, vou ficar aqui nos trópicos da saudade. Mas ao vê-lo enxugar a lágrima teimosa com o dorso da mão, só tornou mais forte o nosso vínculo. Apesar da distância e hiato eminentes, ainda assim, seremos Fred e Barney, a amizade inabalável, como rocha fincada em plena vila de Breddock. Yabba dabba Doo!

Na hora do “até mais ver”, nos decompomos em manteiga derretida e pão molhado. O meu camarada angicalense vai partir direto da chapada do corisco para a terra de Oscar Wilde, aquele dos nobres aforismos, inclusive o que diz que a amizade começa e termina com uma boa gargalhada. Talvez a dele, porque a nossa se metamorfoseou em um vale de águas diáfanas.

Ao acompanhar meu compadre até a porta, ele presenteou a mim e ao seu afilhado. O meu mimo foi um super saca rolha, de engenharia fenomenal, para eu continuar meus treinamentos de incipiente enólogo. Já para o meu filho, ele deu uma mega Ferrari, calma! Era de brinquedo. Mas o rebento gostou tanto que resolveu dormi com ele.

Depois de ter fechado a porta, a imagem proeminente do meu fiel escudeiro Mauro, que também atende pela alcunha de cabeça, transbordou em minha mente. Como assimilar a separação? Como ficar distante do meu companheiro de prosa? Como deixar partir o sujeito que me tirou do analfabetismo digital? Como conceber o fim da amizade entre Sancho Pancho e Dom Quixote? Como rir do Gordo sem o Magro?

Nossa! Estou me despedindo do meu colega que virou amigo e se transformou em irmão.

No entanto, ao fim de tudo, incinerei a idéia inválida da cisão. E mais uma vez, compreendi profundamente, que a nossa amizade estava mais estreita do que dantes. Não era um país longe um do outro que iria falir a nossa empresa amigos para sempre. Entendi que tanto ele como eu, iríamos simultaneamente, importar e exportar vibrações positivas para a realização profissional e pessoal de cada um.

Percebi mais ainda que a nossa amizade, bem nutrida durante vários anos, superará esse afastamento momentâneo e, assim que ele vociferar! Estou de volta, a ponte levadiça se erguerá e eu o receberei com a velha canção do Queen, Friends Will be Friends.

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