Ontem, encontrei um amigo
que há tempos não o via. Foi um momento de duas situações bem distintas: a
primeira, a da alegria do reencontro e a segunda, a da tristeza de sua
indiscrição.
O cara é do tipo sem papas
na língua. Olha para meu cabelo e num átimo, chama minha cabeleira de rock dos
anos oitenta. Como assim? Eu explico. As entradas, ele classificou de Uns e
Outros, o telhado, sapecou um Nenhum de Nós e a parte de trás, ironicamente,
disse que era os Heróis da Resistência.
O filho da mãe me fez sentir
um verdadeiro Kojak, é amigo, aquele detetive careca linha dura dos anos
setenta. Pela descrição do desgraçado, logo eu estaria sendo apelidado de cabeça
de melão ou então de bola de sinuca, só porque ele viu um pedaço infértil no meu
couro cabeludo.
Eu sei que “a minha voz
continua a mesma, mas os meus cabelos”, dizia aquele famoso comercial antigo do
Shampoo Coloroma, mas caramba! Eu não sou calvo, ainda nem precisei de
tratamento capilar.
Timidamente, perguntei àquele
desbravador de calvície, você acha mesmo que já estou careca? Sua resposta foi
lacônica: está. Mais uma vez me senti despenteado diante daquele homicida de
cabelos ralos. Fiquei ali, estático, sem aplique ou peruca, me perguntando, quantos,
esse infame serial cabeludo, já não teria deixado descabelado?
É minha querida Gal Costa, “quem
disse que o cabelo não sente” uma revelação tesourada como esta? É a mesma
coisa que deixar um leão sem juba ou não poder mais cantar, “debaixo dos
caracóis de seus cabelos”.
O meu amigo me deixou sem
pente, um Sansão sem forças, amigo não, pois quem tem um amigo assim, nem
precisa de um cabeleireiro. A sua indiscrição fez com que meus últimos fios
ralos tivessem um comportamento suicida.
Apesar de ter sido castrado,
capilarmente falando, por aquele seguidor dos Jackson Five de uma figa, esbocei
um sorriso e pensei: é dos carecas que elas gostam. Pior mesmo, meu senhor e
minha senhora, é ficar com excesso de cabelo em cima e um déficit de mão de
obra em baixo.
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