quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Vai-se Mais uma Década


Por José Maria Vasconcelos

Entre abraços, afagos e banquetes, encantam-me rojões e céus iluminados anunciando novo ano e nova década. Sinto-me tragado pelo tempo, algo me puxando pro alto em forma de louvores, agradecimentos e meditação. Recolho-me, no recôndito do meu ser, começo a colecionar calendários que se foram, a fugacidade do tempo, o shoow da vida terrena em veloz Fórmula 1, com círculos contados para a parada final.

Quem gosta de literatura não morre sem ler genial soneto do poeta maranhense, Raimundo Correia, aqui resumido: “Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se mais outra... enfim dezenas vão-se dos pombais... À tarde, todas regressam... As pombas voltam, mas nossos sonhos, um por um, céleres voam e não voltam jamais.” Tempo, tempo, tempo, cantaria Caetano Veloso. Infeliz quem não leva a sério a passagem do tempo.

Meu Deus, como voou a primeira década do século 21! Voou a década de 60, rebelde, revolução de costumes, guitarras e hipies. Voaram anos 70 da nostalgia musical, discotecas e “embalos de sábado à noite”. Foi-se a década perdida de um Brasil de inflação a mil por ano, em anos 80. Disparou a década de 90 no mundo internauta e celular. Foi-se a passagem do milênio carregada de crendices e previsões apocalípticas. E cá estamos apagando mais 10 velinhas, mais velhinhos. “O tempo passa e todos caminhamos juntos, sem parar...”A mensagem de ano novo me emociona, só de pensar que cada tempo tem seu tempo; é preciso sabedoria para desfrutá-lo: “Tempo de nascer, tempo de plantar, dançar, falar, silenciar, amar e morrer... Tempo para a ciência, tempo para a sabedoria.” (Eclesiastes,3) Desfrutar o tempo que nos foi dado pelo Criador exige sabedoria. Sentido existencial e espiritual da nossa passagem por este planeta. Porque não se vive só da ciência que proporciona progresso e bens materiais ao corpo, mas da sabedoria que conduz ao enriquecimento do espírito. Muita gente só vislumbra o senso do espiritual nas horas trágicas, quando os pés não encontram solo.

Utilizar ciência e sabedoria, eis a chave da felicidade O material precisa andar de braços dados com o espiritual. Neste momento de luzos e rojões muitos festejam a multiplicação dos pães e peixes conquistados, o equilíbrio dos teores calóricos, o corpo sarado na academia, o contracheque da malandragem, o assalto ao patrimônio público, a vitória política comprada, a cara de pau de sempre. Como vão, porém, os teores da honestidade, gratidão, na suarenta caminhada para Deus? Na inexorável e inesperada aproximação com a eternidade, a qualquer tempo? E para a qual não levaremos um centavo guardado nem bumbum torneado nem massa corporal? Que contas a pagar à justiça suprema, que dispensa esperteza de advogados? Vamos, levantemo-nos, enquanto é tempo de depurar mais um ano que se foi, mais uma década que se consumiu, flertando com o outro lado da vida.

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