domingo, 13 de fevereiro de 2011

Egito e as 10 pragas


Por José Maria Vasconcelos

Depois de três décadas de poder, o presidente egípcio, Mubarack, montado em 40 bilhões de reais sujos, encontra-se numa fria. Centenas de milhares de cidadãos, em praça pública do Cairo e Alexandria, exigem renúncia do faraó da modernidade, causando monumental onda de prejuízos financeiros ao país. Profeta Moisés fosse vivo aglomeraria 400 mil israelitas miseráveis, de 30 séculos atrás, sob a chibata faraônica, para o grito de êxodo a nefasto governo. Egito mais pobre, alimentos rareando, voos turísticos cancelados. Eu planejei ir à Jordânia, Israel e Egito, início de fevereiro. Desde dezembro, pipocavam manifestações de repúdio a governos, em vários países muçulmanos. Abdiquei do sonhado passeio.

Mais de trinta séculos atrás, o próspero Egito enfrentou semelhante revolta, oriunda de um povo de origem israelita, os hebreus, faminto, escravo e sem dignidade nacional. A epopeia dos hebreus, no Egito, iniciara-se 200 anos antes, em Canaã, hoje Israel. O patriarca maior, Abraão, gerara o filho Isaac, que gerara Jacó, de quem sairiam doze rebentos, entre os quais José, que fora expurgado pelos irmãos e vendido como escravo a mercador egípcio. A fantástica história desse bisneto de Abraão culmina com a sua consagração a primeiro ministro do Egito, para onde manda chamar seu pai e irmãos, já perdoados da antiga maldade. No Egito, a raça abraâmica multiplicou-se aos milhares, despertando ódio racial dos egípcios. O faraó decide diminuir a população dos hebreus mandando jogar no rio Nilo os meninos que nascessem a partir dali, escravizando-lhes a raça. A filha do faraó, observando a criancinha boiando em cesta no rio, levou-a para o palácio real e educou-a como príncipe, Moisés. O hebreu, que nunca se desligou de suas raízes humildes, conscientiza o povo a exigir a libertação e êxodo para a terra de seus antepassados.

Às vezes, são necessárias pragas sobre aqueles que oprimem os mais fracos, quando o clamor dos oprimidos se eleva aos céus. O cabeçudo faraó só se deu conta de sua obcecada tirania, após dez pragas lhe abaterem a soberba e intransigência. A primeira desencadeou as demais: contaminação do rio Nilo, um deus, fonte da subsistência e agricultura. As águas tornaram-se turvas e avermelhadas pela ação de algas venenosas, consequentemente causando outras pragas, como mortandade de peixes, fuga de sapos, definhamento das plantações provocadas por gafanhotos, morte de bois, bichos, gente, onda de podridão, moscas, pestes, úlceras. Nem os poços cavados nas proximidades do rio atenuaram os golpes da natureza.

Os egípcios de hoje repetem a saga dos israelitas do passado. Infelizmente, tiranias e governos corruptos só são derrotados com levantes sociais e sacrifícios coletivos. A diferença é que, no passado, valia só corpo a corpo; hoje, a mídia eletrônica detona, à distância, qualquer poderio, especialmente ditatorial. E as massas respondem aglutinadas.

O ditador Mubarack esqueceu-se, antes da queda, de construir seu piramidal mausoléu. Nisto, faltou-lhe esplendor de faraó.

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