quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O cara que roubou um livro

                                                                     Foto: Pedro Henrique

Recentemente alguém me perguntou qual era o meu autor literário preferido. Fiquei engasgado com a tal indagação, um tiro a queima roupa, tão certeiro que emudeci.

Rapidamente direcionei meu olhar para a estante de livros, repleta de volumes, um deles seria minha salvação, pois aquela pergunta ainda ecoava. E ficar sem uma resposta exata era no mínimo um latrocínio.

Fiz mais uma tentativa minuciosa para o meu guarda livros, dessa vez, enfim, achei o tesouro. E ali estava ele, encapado com plástico adesivo com desenhos da cruz de malta. Era o velho e bom livro do Marcelo Rubens Paiva, sim, aquele mesmo que uma amiga vascaína havia me emprestado.

- não vá desaparecer com meu livro, gosto muito dele. Lembrei-me instantaneamente de seu pedido cauteloso.

O titulo da obra tinha me fascinado, Feliz Ano Velho, quis levá-lo imediatamente, fiz mil promessas que logro traria de volta. Sabe, nunca devolvi, ainda esta comigo. Podem até me acusarem de crime doloso ou atentado ao patrimônio alheio, mas confesso sempre houve intenção de restituir.

Na narração Marcelo relata com bom humor, depois de um mergulho mal sucedido,como ficou tetraplégico. Eu também mergulhei profundamente em sua escrita, transbordei de emoção, tomei gosto pela leitura, virei leitor voraz, lia até bula de remédios.

Mas a pergunta incisiva invadia meus pensamentos, qual o seu autor preferido? Qual o seu autor preferido? Incansavelmente me perguntava, por que ainda não tenho a resposta? Por que não pode ser esse livro roubado e vestido de time carioca?

Aliás, a idéia de surrupiar um livro, nunca havia passado pela minha cabeça. Jamais quis ser um meliante das letras através de um furto. Mas aconteceu, e foi tão bom, senti que aquelas linhas rocambolescas também queria fugir comigo.

Perdi o contato com minha amiga e o Feliz Ano Velho agora faz parte dos meus anos novos. Suas páginas marcadas e tantas vezes relidas são adereços de minha cabeceira e do meu criado mudo. Sua capa rósea se destaca em meios a outras de cores opacas.

Roubo ou não, o texto do escritor paulista é recorrente em minha vida. Talvez essa seja a melhor resposta para a interrogativa inicial. Sim eu sei, terei outras experiências de leituras, porém a história de Feliz Ano Velho estará trancada em um cofre a sete chaves na minha memória e coração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário