quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Bolero, brega e samba-canção.

                                                                       foto - google

Por esses dias venho ouvindo bolero, brega e samba-canção, músicas que certamente, pouca gente, hoje, ousa sair por ai cantarolando. Duvido muito que alguém bata no peito e diga que ouve tais pérolas.
Mas eu montei meu próprio roteiro romântico, com as melhores, e agora, frequentemente, ligo e o play da minha vitrola e me afundo naquelas que há séculos o rádio e a tevê resolveram enterrar.
O amigo e amiga modernos, esses moços e moças da hora, devem está se perguntando, é dor de cotovelo? É chifre? Ou alguma desilusão amorosa? Nenhuma coisa nem outra, apenas saturado de tantos, “eu quero tchu, eu quero tchá”.
A letra de “Perfume de gardênia”, por exemplo, do inconfundível Waldick Soriano, tem tanta qualidade literária, que até “os cultos e letrados podem invejar”, diria a ofegante Virginia Woolf aos escritores bam-bam-bam que odiavam os escritos coloquiais.
E o que dizer da letra e música de “Você vai ficar na saudade”, de Benito di Paula, hein? Um verdadeiro clássico, amigo. Falando nisso, Ítalo Calvino, discorrendo sobre os escritos literários nos diz que “os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem inesquecíveis”, permita-me, meu nobre escrittore italiano, que eu estenda esse seu conceito para o bolero, para o brega e também para o samba-canção.
Ouvir bem caladinho “A noite do meu bem” com a Dolores Duran é provocar aos tímpanos, instantaneamente, um espasmo de felicidade. A cantora mandava tão bem no samba-canção, nos anos dourados do rádio, que “o palco foi o seu berço, seu quarto de brinquedos”, diria a mesma Virginia Woolf elogiando as inglesas talentosas em seu livro, “Profissões para mulheres e outros artigos feministas”.
E agora estou aqui, ao pé da minha vitrola, ouvindo em estado de êxtase, “Você não me ensinou a te esquecer”, música do Fernando Mendes que o Caetano Veloso imortalizou no cinema. Pensando bem, esse mineirinho de Conselheiro Pena sabe como ninguém falar das dores do amor, só mesmo ele para cantar tão tristemente, “Você bem que podia perdoar e só mais uma vez me aceitar”.
Como podem ver, não estou afogando as mágoas, muito menos implorando ao garçom a saideira, apenas maravilhado com tamanha riqueza das letras e músicas que foram jogadas no baú do esquecimento. Por isso, para o bem do romantismo, sugiro aos mais jovens, a esses imberbes baladeiros, que vez por outra, como quem não quer nada, misturem esses hits de verão com as baladas românticas de ontem, cito como exemplos a “Última Canção” de Paulo Sérgio e “Aparências” de Márcio Greyck. Misture moçada! Ficar preso somente a essas modinhas temporárias é impedir que o coração bata mais feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário