Por esses dias venho ouvindo
bolero, brega e samba-canção, músicas que certamente, pouca gente, hoje, ousa
sair por ai cantarolando. Duvido muito que alguém bata no peito e diga que ouve
tais pérolas.
Mas eu montei meu próprio
roteiro romântico, com as melhores, e agora, frequentemente, ligo e o play da
minha vitrola e me afundo naquelas que há séculos o rádio e a tevê resolveram
enterrar.
O amigo e amiga modernos,
esses moços e moças da hora, devem está se perguntando, é dor de cotovelo? É
chifre? Ou alguma desilusão amorosa? Nenhuma coisa nem outra, apenas saturado
de tantos, “eu quero tchu, eu quero tchá”.
A letra de “Perfume de
gardênia”, por exemplo, do inconfundível Waldick Soriano, tem tanta qualidade
literária, que até “os cultos e letrados podem invejar”, diria a ofegante
Virginia Woolf aos escritores bam-bam-bam que odiavam os escritos coloquiais.
E o que dizer da letra e
música de “Você vai ficar na saudade”, de Benito di Paula, hein? Um verdadeiro
clássico, amigo. Falando nisso, Ítalo Calvino, discorrendo sobre os escritos
literários nos diz que “os clássicos são livros que exercem uma influência particular
quando se impõem inesquecíveis”, permita-me, meu nobre escrittore italiano, que
eu estenda esse seu conceito para o bolero, para o brega e também para o
samba-canção.
Ouvir bem caladinho “A noite
do meu bem” com a Dolores Duran é provocar aos tímpanos, instantaneamente, um
espasmo de felicidade. A cantora mandava tão bem no samba-canção, nos anos
dourados do rádio, que “o palco foi o seu berço, seu quarto de brinquedos”,
diria a mesma Virginia Woolf elogiando as inglesas talentosas em seu livro, “Profissões
para mulheres e outros artigos feministas”.
E agora estou aqui, ao pé da
minha vitrola, ouvindo em estado de êxtase, “Você não me ensinou a te esquecer”,
música do Fernando Mendes que o Caetano Veloso imortalizou no cinema. Pensando
bem, esse mineirinho de Conselheiro Pena sabe como ninguém falar das dores do
amor, só mesmo ele para cantar tão tristemente, “Você bem que podia perdoar e só mais
uma vez me aceitar”.
Como podem ver, não estou
afogando as mágoas, muito menos implorando ao garçom a saideira, apenas
maravilhado com tamanha riqueza das letras e músicas que foram jogadas no baú do
esquecimento. Por isso, para o bem do romantismo, sugiro aos mais jovens, a
esses imberbes baladeiros, que vez por outra, como quem não quer nada, misturem
esses hits de verão com as baladas românticas de ontem, cito como exemplos a “Última
Canção” de Paulo Sérgio e “Aparências” de Márcio Greyck. Misture moçada! Ficar
preso somente a essas modinhas temporárias é impedir que o coração bata mais
feliz.
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