domingo, 7 de outubro de 2012

O almoço no domingo de eleições

                                                                  imagem google

Antes de votar fui almoçar em uma churrascaria próxima da minha casa, detalhe, sozinho. Aliás, nesse almoço tive a plena certeza que a pior solidão é aquela em que você não consegue trocar uma idéia nem com o garçom que está lhe servindo.

Antes de chegar o meu pedido com os acepipes, fiquei bebericando uma cajuína, devo dizer que meio forçado, afinal o domingo de eleição é de lei seca, ou seja, o cidadão de bem se torna abstêmio e os malandros que estão sendo votados viram farristas dionisíacos as nossas custas.

Fiquei observando moços e moças comendo, bebendo refrigerante, conversando e outros até trocando afagos, teve um que tapava um dos olhos de uma balzaquiana com beijos bem sutis, imaginei, tanto carinho assim, devem ser namorados, pois “o namoro é essa encantadora primeira fase do eclipse do casamento”, já dizia o cronista João do Rio.

Todas as mesas estavam lotadas, comida abundante, um verdadeiro Eldorado gastronômico. A conversa alta, gargalhadas guturais, o tilintar de pratos e talheres fluíam para todos os cantos, menos para o meu, ali, no meu cantinho, eu parecia um menino assustado e famélico.

Observei também alguns homens chegando com seus bermudões e camisas apertadas que denunciavam abertamente a fartura de suas barrigas, esses homens que amam se engolfar com uma coxa de frango e um pernil suculento.

As mulheres não, essas entravam como divas, porém, discretas, plácidas e atentas com suas silhuetas. Formaram até uma pequena fila em frente ao espelho para darem aquela famosa última checada no visual. Ao contrário de seus homens, que chegavam todos amarrotados, elas, na sua grande maioria, entravam bem alinhadas, tudo combinando com tudo, “a alma da mulher exterioza-se irresistivelmente diante dos adereços”, vociferava velho filósofo das ruas João do Rio.

Terminei de almoçar, paguei a conta e, solitariamente, saí pelas ruas movimentadas de um domingo de eleições. Parei em uma determinada esquina e sarcasticamente pensei, hoje me comportei como um verdadeiro voyeurista infame que fica bisbilhotando a vida dos outros, xeretando as mesas alheias. Mas logo joguei a culpa ao último verso do “Poema de Sete Faces” do Drummond, essa churrascaria, essa cajuína gelada “botam a gente comovido como o diabo”.

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