sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

CONCURSO PÚBLICO


O desejo de estabilidade, a vida atrelada a uma entidade governamental, o olhar indispensável a um processo seletivo, tudo isso, tem roubado o tempo de meus amigos.

E percebo que cada um deles, busca, incansavelmente, aquilo que o poeta Manuel Bandeira estava cansado: do lirismo funcionário público. Pois, na ânsia de ver o nome publicado no Diário Oficial, meus amigos, agora, me privam até de suas companhias.

Outro dia, encontrei um velho camarada, e feliz com o reencontro, propus uma bebida no bar de sempre, mas ele, prontamente, se inclinou do convite. Disse que, atualmente, só comia e bebia Direito Constitucional, Direito Administrativo e Informática, se despediu e foi embora.

A cada seis meses, quando os editais pipocam em toda parte, meus fieis parceiros pedem exoneração de seus cargos dionisíacos, se afastam das repartições de Baco e vão aspirar às funções públicas. E eu, em tom monocórdio, canto a canção da despedida, enquanto todos partem para a guerra dos concursos.

Socorro! Onde estão meus amigos que não ganham mais as ruas comigo? Saibam que sozinho, eu não quero nem o flâneur de Baudelaire. Voltem meus caros! Não gastem todo o tempo de suas vidas somente com a cara enfiada nas apostilas, pois as horas já não são tão abundantes assim.

Estudem, mas arranjem tempo também para brincar com a ociosidade, para jogar conversa fora com a desocupação, para ficar de pernas pro ar só ouvindo o tic-tac do relógio, afinal, como disse o poeta Ledo Ivo, há criaturas que devem matar o tempo antes que o tempo as mate.

Que isso sirva também para a amiga Maria, que disse reservar as vinte e quatro horas do dia, ininterruptamente, para estudar para todos os concursos que conseguir fazer durante todo o ano. Sua vida social é só um detalhe, quer mesmo é poder dizer que não dispõe de tempo nem pra se coçar.

Nada é mais precioso do que o nosso tempo, saibamos equilibrá-lo, nem tanto ao mar, nem tanto a terra, nem tanto full-time estudando, nem tanto full-time brincando. Aliás, o tempo, além de inexorável, é também paradoxal, um minuto a mais na verdade representa um minuto a menos.

Mas toda essa elucubração é simplesmente para pedir um pouco mais de lentidão e menos correria no dia a dia de meus amigos, para pedir que não se esqueçam do futebol e nem do churrasco do próximo fim de semana, afinal, não somos como aquele coelho do filme, Alice, no País das Maravilhas que está sempre correndo e dizendo aos quatro ventos “é tarde, é tarde, é tarde!”.

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